Palavra prima
Uma palavra só, a crua palavra
Que quer dizer
Tudo
Anterior ao entendimento, palavra
Palavra viva
Palavra com temperatura, palavra
Que se produz
Muda
Feita de luz mais que de vento, palavra
Palavra dócil
Palavra d'agua pra qualquer moldura
Que se acomoda em balde, em verso, em mágoa
Qualquer feição de se manter palavra
Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra
Talvez à noite
Quase-palavra que um de nós murmura
Que ela mistura as letras que eu invento
Outras pronúncias do prazer, palavra
Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
O coração do pensamento, palavra
(Uma palavra, Chico Buarque)
Antes do início, a palavra. Uma palavra silenciosa. A palavra que atravessa o pensamento e a construção de uma ideia que atravessa a palavra. Esse blog tem como fio condutor o encontro entre palavras e pessoas, a escrita como uma proposta, como uma invenção, um ofício.
E podemos nos perguntar: para que serve a escrita? Por que escrevemos? O que faz com que a mão mergulhe no mistério de uma folha em branco, "no chão de letras"? Talvez para que a palavra conte e descreva algo de nós e do outro, talvez para costurar nossas lacunas. Talvez e, simplesmente, para inventar dimensões de nós e da vida, a invenção da memória. Talvez para cuidar de nossas histórias. E não há ansiedade em responder, mas o que podemos dizer, quando se trata da escrita, é que ela é necessária...
O blog traz nas suas linhas um pouco do encontro experimentado, traz a escrita inventada nos dias de trabalho junt@s e a possibilidade de novas palavras que possam vir a chegar no depois. Cada letra que se alinha a outra e costura um narrar particular de cada uma, que se entrelaça a outras experiências-palavras de vida, um nó de histórias embebidas por afeto.
Nesse encontro afetuoso entre palavras e pessoas, o corpo foi o texto e o texto foi o corpo, um corp'a'screver como escreve a escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol. O escrever dentro do corpo e o corpo dentro do escrever, a volta metalinguística, experimentar o estado do/no enlace entre corpo e linguagem, um "cair no corpo" frase da filosofa e escritora Marcia Tiburi.
A oficina visa trabalhar a diversidade/diferença pelo
olhar da psicanálise e da arte, trabalhando corpo, afeto e memória. O trabalho
se fará pela palavra através de duas vias: a palavra escrita e a palavra
imagem, tendo por base as conversações – metodologia da psicanálise para o
trabalho em grupo. O objetivo principal é pensar a subjetividade que atravessa
os corpos dos atores sociais que compõem o cotidiano das ruas, escolas,
universidades, casas, praças, ônibus e tantos outros espaços reais, simbólicos
e imaginários. A ideia é costurar a possibilidade de intervenções – as saídas
para lidar com as diferenças – nos espaços da educação, interrogando, de forma
especial, a relação professor-aluno. A proposta é uma aposta no sujeito,
enquanto aquele que para de ser falado para tomar a palavra e falar – é uma
aposta nos encontros tendo como pano de fundo o patrimônio como esse lugar em
que é possível se inscrever e escrever.